quinta-feira, 6 de junho de 2013

Frevo nas rádios

Diário de Pernambuco


Luiz Guimarães Gomes de Sá
Médico e membro da Academia Pernambucana de Música
Publicação: 05/06/2013 03:00
Sancionada pelo prefeito Geraldo Júlio, no dia 9 de abril, a Lei 4/2013 obriga as rádios, com algumas exceções, a tocar frevo em suas programações diárias. \O que é exigido em termos de tempo é muito pouco, considerando as 24 horas que temos no dia. Contudo, esperamos que funcione.

Obviamente, não será fácil controlar o cumprimento da lei, mas o que nos causa espécie, é termos uma riqueza musical invejável e necessitarmos de uma lei para que haja sensibilidade para algo que é tão nosso como o frevo. Inadmissível essa postura dos gestores das nossas rádios, pois, tocar frevo deveria ser um ato espontâneo e não compulsório.
Parece que o frevo é uma música intolerável como tantas outras que chamamos de “bate estaca”, pela mediocridade tanto da letra, quanto da melodia, se é que existem... No mínimo vergonhosa a omissão daqueles que deveriam por norma divulgar a nossa cultura em toda sua abrangência.

Já na Bahia, qualquer alteração na célula rítmica é motivo de exaltação. Valem-se da mídia para divulgar nos quatro cantos do mundo, mesmo que a fato nada acrescente no ponto de vista musical.

Como se não bastasse o frevo ser Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade e mesmo a partir de 2007, ser Patrimônio Nacional, fatos que deveriam orgulhar os pernambucanos, há quem ignore esses diplomas que não vieram graciosamente e sim por mérito do frevo.
Nem assim, esses pernambucanos insensíveis se tocam para reconhecer o valor do frevo como música e expressão da nossa cultura. Contudo, se as rádios fossem pagas para tocar frevo, com certeza, abririam as portas e principalmente os bolsos para receber esse dinheiro.
Não sei se seria juridicamente legal, mas uma medida que poderia ser adotada pelo prefeito Geraldo Júlio seria não direcionar a publicidade da

Prefeitura do Recife para as rádios que não tocassem frevo. Ai, sim, a sensibilidade no “bolso” faria com que eles viessem a valorizar nosso ritmo e tocariam quantas vezes fosse exigido...
Assim, o frevo ao invés de ser orgulho nosso torna-se polêmico, precisando ser exigido por lei para ser tocado. Não creio que algo semelhante ocorra em lugar nenhum do mundo. Se tudo isso não é vergonhoso, com certeza, é lastimável e digno de repudio pela sociedade.


Luiz Guimaraes Gomes de Sa